quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sua Excelência, O Público

Sempre em meus artigos eu cito o estrondoso sucesso da Luta Livre no Brasil nas décadas de 60 e 70.
Para os mais novos que não chegaram a viver essa época, não conseguem ter uma noção do que foi esse período para a modalidade aqui no país. Não foi somente um programa de televisão com alguns lutadores, mas realmente um movimento que lotava ginásios, estádios, estúdios de TV para assistir aos combates.


O que vemos hoje nos EUA nos eventos promovidos pela WWE, por exemplo, era o que tínhamos aqui. Ingressos eram vendidos antecipadamente e esgotavam com a mesma velocidade com que eram disponibilizados.
Famílias inteiras se dirigiam aos eventos e torciam por seus lutadores preferidos.
Grandes nomes no exterior, principalmente artistas do El Titanes en El Ring, empresa argentina de luta livre, dirigida na época por Martín Karadagian, hoje mantida por sua filha Paulina Karadagian, vinham contratados para cá já trazendo seus nomes e fama internacional e acrescentando sua cultura na luta livre á nossa o que criou o estilo brasileiro de fazer luta livre.

Nosso cenário recebeu grandes lutadores argentinos, chilenos, uruguaios, panamenhos, dentre outros que abrilhantaram os espetáculos que moviam multidões.

Especificamente no sul do país, no Rio Grande do Sul, por iniciativa de um grande idealizador chamado Ary dos Santos, hoje com 82 anos, nascia o programa Ringuedoze, nascido da idéia do seu idealizador de promover um programa de telecatch transmitido ao vivo diretamente das instalações do Ginásio da Brigada Militar (como é chamada a Polícia Militar até os dias atuais no RS) para todo o Estado.
A apresentação das lutas era feita pelo jornalista Éldio Macedo sempre elegantemente trajando terno, gravata e um sapato lustradíssimo.

Devido a esse idealizador e ao competentíssimo empresário Moacir Dorneles (empresário do Ringuedoze) grandes nomes subiram nesse ringue. Nomes como Gran Caruso, Ali Bunani, El Toro, Scaramouche, El Cid, Stiner, El Condor, Bala de Prata, Leão do Líbano, Ringo, Búfalo Bill, Ted Boy Marino, Antoniello, Lothar, Bobby Olson, Ciclone, Romano, El Duende, Mister Argentina, Hinata, Homem Branco, Leal, Mongol, dentre outros.
Em sua grande maioria lutadores com prestigio internacional.

Os combates não ficavam também restritos a somente o que era visto na televisão nas noites de domingo, mas equipes percorriam todo o Estado com apresentações quase que diárias. Praças, ginásios, clubes sociais, até mesmo em circos, todo espaço era válido para que o público pudesse vibrar com seus ídolos e algozes.

Ao mesmo tempo, em outras partes do país como no Rio de Janeiro, crescia e ganhava destaque nacional o programa Telecatch Montilla, com a direção de Renato Pacote e do empresário Teti Alfonso, para onde muitos desses lutadores que passaram pelo Ringuedoze acabaram rumando com novos contratos.
Momento esse onde se concretizou o reconhecido mérito e lançou para a fama nacional lutadores como Ted Boy Marino, Tigre Paraguaio, Fantomas, Verdugo, Tony Videla, Rasputim, dentre outros.
O programa originalmente apresentado na TV Excelsior, passou a ser apresentado pela Globo em 1967, dois anos após foi transmitido pela TV Tupi saindo do ar em 1972.

O grande destaque nacional ficou por conta do italiano Mario Marino, mais conhecido por Ted Boy Marino, que se manteve na mídia por muitos anos após o termino do programa mediante contrato com a Globo para participações no programa Os Trapalhões. Ted estrelou também o filme Dois na Lona onde interpretava um lutador (de mesmo nome) em início de carreira, mas já vencendo seu primeiro campeonato de telecatch...

Ao final da década de 70 e na década de 80 outras companhias de luta livre ainda mantiveram programas locais e alguns nacionais, como os conhecidos Astros do Ringue e Gigantes do Ringue.

Como citei, não foi um ou outro programa de luta livre que fez com que fossemos nessa época respeitados mundialmente, mas gerou-se um movimento. O público brasileiro passou a olhar para outro esporte que não fosse futebol.

Nesse ponto do meu artigo de hoje é que chego ao seu título.
O que ocasionou esse gigantesco movimento da luta livre brasileira nessa época?
O que alavancou novos lutadores e fez com que os já famosos e reconhecidos tivessem seus nomes e legado imortalizados?
A resposta é simples, O Público.

Não existe espetáculo sem público. Ele é feito para o público, e sem ele não existe nada. Por mais técnica que possam apresentar os lutadores, por melhor que seja o aparato técnico na promoção do evento, por melhores e mais tecnológicos que sejam os recursos para gravação e edição de um programa, nada funciona sem o público.
O público é quem tem o poder de fazer a luta livre voltar a ter seu espaço na mídia, o reconhecimento mundial, o reconhecimento dos atletas que treinam exaustivamente para apresentar combates cada vez melhores. Tem o poder de fazer todo o investimento e tempo dedicados a um ideal ter seus resultados.

Por que esse artigo de hoje? Simples.
Por mais de 20 anos a luta livre ficou estacionada no Brasil.
Enquanto os americanos, mexicanos, argentinos, japoneses mantiveram a cultura do espetáculo de luta livre, aqui no nosso país ela foi literalmente marginalizada e ridicularizada. Destruíram com a imagem da luta livre. Ridicularizaram nossos ídolos do passado, verdadeiros mestres da modalidade que foram deixados largados aos seus passados. Seu conhecimento acumulado de nada vale, pois estão velhos, são vistos como velhos.
A luta livre passou a ser vista como “marmelada”, “luta de mentirinha”.

Ao invés de irmos a um ginásio para assistir a um show de luta livre, e muitas vezes ainda poder contribuir com uma instituição de caridade com 1kg de alimento, preferimos pagar R$ 40,00 para assistir uma luta de Vale Tudo, para ao invés de ver a beleza das técnicas, da plástica e da atmosfera de espetáculo e diversão da luta livre, preferirmos ver gladiadores ensangüentados, no fim de suas forças engalfinhados em um Octágono.
Não desmereço com isso o esporte, valorosos lutadores que surgiram no wrestling fizeram fama no Pride e MMA, como Dan “The Best” Severn, mas sim defendo o fato de o público ter abandonado a luta livre para outros esportes.

Temos agora novamente a chance de sermos reconhecidos nacional e internacionalmente com uma federação forte, comprometida, com intenção e pés firmes no chão para levantar novamente o nome da luta livre brasileira.
A BWF vem aos poucos conquistando seu espaço até mesmo no cenário internacional.
Vem fazendo um trabalho sério, dedicado, calculado e pretensioso, sim e tem que ser pretensioso se o objetivo é crescer.

Mas com todo o esforço desses guerreiros que buscam mostrar o Brasil para o mundo depende do seu público.
É preciso que seu público rompa as barreiras da internet e compareça aos eventos, que apóie, divulgue, comente.
É preciso união, participação, pois nós que admiramos a luta livre lá de fora, podemos sim até superar o que vemos lá, aqui na nossa casa mesmo, pois temos potencial para isso, temos o que mostrar.
As grandes federações americanas, por exemplo, não foram sempre grandes. Tudo tem um início, mas tendo público, a tendência é a melhoria constante e o crescimento.

Portanto, conforme anunciado recentemente no seu programa semanal, a BWF tem um novo evento que se aproxima, dia 5 de junho no Pólo Cultural em São Paulo. É hora de apoiar, de comparecer.
Nós como amantes da luta livre, temos a obrigação de ajudar a voltarmos ao topo, pois servindo como exemplo levaremos outros conosco, e assim aos poucos, mas num processo continuo, retomaremos o público necessário para não mais ficar somente apostando no sucesso da luta livre no Brasil, mas sabendo que demos nossa participação.

Importante: Os artigos aqui postados por mim representam a minha expressão e meus pensamentos, não tenho qualquer participação com a BWF ou com seus integrantes, simplesmente sonho em ver nossa luta livre novamente no topo.