Comentando o filme The Wrestler
Já a um bom tempo procurava uma oportunidade para assistir ao filme The Wrestler, como todos sabem protagonizado pelo ator Mickey Rourke, que conta a vida de um lutador que já experimentou o sucesso, a fama e se vê já com uma certa idade sobre as costas e em meio a decadência da sua carreira.
Com grande expectativa buscava assistir ao filme do qual ouvi tanto falar, e que teve uma repercussão tão grande principalmente no meio da luta livre, o que acabou até mesmo gerando aqui no Sul, uma matéria por parte do maior jornal local sobre os lutadores que fizeram parte do Ringuedoze, que foi realmente um grande movimento nas décadas de 60 e 70.
Pois esse dia finalmente chegou, consegui assistir ao filme.
Senti-me na obrigação de comentar sobre o que vi e por esse motivo resolvi escrever essa matéria.
Geralmente como em toda produção norte americana, cria-se uma atmosfera de glamour onde tudo é belo, tudo é perfeito. Confesso que, como já havia lido a sinopse do filme tinha uma idéia do que encontraria, mas realmente o que assisti me surpreendeu.
O que todos assistimos nessa que hoje considero uma grande obra do cinema mundial, foi nada mais nada menos do que a realidade, fria, dura, e sem o menor embelezamento normal do cinema.
A vida de um wrestler, lutador de luta livre, artista ou como queiram chamar foi excelentemente retratado.
Ser ou tornar-se um wrestler, é viver uma doce ilusão. É viver momentos de fama, de glória em meio aos fãs da modalidade, e principalmente sob o ringue.
O que poucos sabem é que essa fama, sucesso e glamour é algo fictício, pois é real somente perante os holofotes, e sob o ringue.
Uma vida de wrestler é uma verdadeira epopéia em busca da sobrevivência. É abrir mão de se aprimorar profissionalmente para se dedicar a uma vida de sucesso imaginário, de fama imaginária, e de passar a imagem de que sua vida é o que todos sonham, com dinheiro, sucesso, realização e respeito.
A realidade da vida de um wrestler é muito mais cruel e dura do que parece.
Não existe beleza, glória, dinheiro, e principalmente garantia de uma velhice tranqüila financeiramente.
Vive-se uma vida de aparências.
Muita gente imagina que um wrestler é respeitado, temido, tem uma gorda conta bancária.....ledo engano.
Um wrestler nada mais é do que um artista, um ator. Naquele momento em que ele sobe ao ringue, não está subindo o homem que passa necessidades, que tem suas obrigações para cumprir assim como todos nós, que tem seus problemas pessoais e financeiros, no momento em que sobre ao ringue está subindo um personagem, um personagem sendo interpretado por esse homem igual a cada um de nós.
Todos nós sabemos, apesar de admirarmos a modalidade que aquilo não passa de uma luta cênica, uma interpretação, previamente treinada exaustivamente, com movimentos e reações combinadas.
Não estou subjugando o conhecimento de nenhum deles em alguma arte marcial ou em qualquer outra modalidade de luta. Conheço muitos que partiram de uma experiência com o boxe, karatê, judô dentre outras artes para a luta livre, porém no momento do show isso não conta, pois o que será feito lá em cima é wrestling.
Portando, onde quero chegar é no ponto de que os próprios wrestlers têm que ter a consciência de que aquilo é um tipo de teatro, um filme, pois o que colocar no seu coração que é um lutador real está também se enganando.
Imaginar que o fim da carreira de um wrestler é algo repleto de glamour também é um equívoco.
Um wrestler não se aposenta porque quer, mas sim porque seu corpo não suporta mais, sua vida não suporta mais.
Se fosse citar alguém que se realizou profissionalmente e talvez financeiramente na realidade brasileira, poderia citar somente um nome, Ted Boy Marino. Um caso em mil de alguém que devido à fama que construiu durante a época de ouro da luta livre no Brasil, partiu para uma contratação por parte de uma emissora de TV para um programa humorístico, o que garantiu a permanência seu nome na mídia, sua fama e reconhecimento pelo seu caráter, profissionalismo e técnica incomparável.
E o que aconteceu com os demais citando como exemplo nosso cenário nacional?
Quem não se profissionalizou em qualquer que seja a área, ou fez um concurso público, ou qualquer outra coisa para manter sua sobrevivência, se viu na mesma situação do personagem do filme.
A fama passa, o corpo reclama, e o público.......ah o público, esse o esquece.
Viver disso é contar os dias para a idade chegar e ver que o sonho acabou.
Não estou radicalizando, nem obscurecendo o espetáculo. Estou somente mostrando a realidade de um mundo de ilusão.
Não pense também que um artista das várias federações americanas, mexicanas, japonesas, por não ser brasileiro tem uma vida melhor do que os nossos.
O que se vê perante as câmeras é o momento do show, o instante em que as luzes estão acesas, o estádio ou ginásio lotado, o público vibrando. Mas quando o show acaba, as luzes se apagam e o público volta para suas casas, a vida real recomeça. O wrestler despe-se de sua fantasia de herói e volta a ser o cidadão tão comum quanto eu e você.
A cena mais triste que se pode presenciar é quando o tempo já passou, a idade chegou, aquele homem que sobe ao ringue não tem mais o fôlego, o pique e a resistência que tinha antes, seus saltos não são mais como eram antes, seu corpo apresenta já os traços da idade, mas ele permanece lá sob o ringue. Ele permanece porque quer? Muitas vezes não. Permanece porque precisa, porque não sabe fazer nada mais do que aquilo, e o pior, viveu aquilo sua vida inteira, e não prestou atenção que o tempo passou, e que só o que fez a sua vida inteira foi viver uma ilusão.
O backstage do mundo do wrestling é frio, não tem beleza, é sacrificado.
Mas mesmo nesse mundo adverso, existe amizade, amor pelo que se faz e muita determinação.
Quem um dia foi um lutador de luta livre, nunca mais esquece o som do tablado, o tato das cordas, a voz do público.
Quem é hoje um wrestler sente tudo isso, mas deve ter ciência de que não deve ver o seu hoje como sua única alternativa do seu amanhã, pois certamente será muito triste se imaginar que o sucesso de hoje será o reconhecimento de amanhã.
O dia de hoje deve ser vivido intensamente, mas sem esquecer de olhar para frente, sem esquecer de programar o seu futuro, sem esquecer que um dia a fama passa, e principalmente sem esquecer que um dia será esquecido, e acabará se desiludindo e descobrindo que essa desilusão tem o motivo de a vida toda ter se iludido.
Com grande expectativa buscava assistir ao filme do qual ouvi tanto falar, e que teve uma repercussão tão grande principalmente no meio da luta livre, o que acabou até mesmo gerando aqui no Sul, uma matéria por parte do maior jornal local sobre os lutadores que fizeram parte do Ringuedoze, que foi realmente um grande movimento nas décadas de 60 e 70.
Pois esse dia finalmente chegou, consegui assistir ao filme.
Senti-me na obrigação de comentar sobre o que vi e por esse motivo resolvi escrever essa matéria.
Geralmente como em toda produção norte americana, cria-se uma atmosfera de glamour onde tudo é belo, tudo é perfeito. Confesso que, como já havia lido a sinopse do filme tinha uma idéia do que encontraria, mas realmente o que assisti me surpreendeu.
O que todos assistimos nessa que hoje considero uma grande obra do cinema mundial, foi nada mais nada menos do que a realidade, fria, dura, e sem o menor embelezamento normal do cinema.
A vida de um wrestler, lutador de luta livre, artista ou como queiram chamar foi excelentemente retratado.
Ser ou tornar-se um wrestler, é viver uma doce ilusão. É viver momentos de fama, de glória em meio aos fãs da modalidade, e principalmente sob o ringue.
O que poucos sabem é que essa fama, sucesso e glamour é algo fictício, pois é real somente perante os holofotes, e sob o ringue.
Uma vida de wrestler é uma verdadeira epopéia em busca da sobrevivência. É abrir mão de se aprimorar profissionalmente para se dedicar a uma vida de sucesso imaginário, de fama imaginária, e de passar a imagem de que sua vida é o que todos sonham, com dinheiro, sucesso, realização e respeito.
A realidade da vida de um wrestler é muito mais cruel e dura do que parece.
Não existe beleza, glória, dinheiro, e principalmente garantia de uma velhice tranqüila financeiramente.
Vive-se uma vida de aparências.
Muita gente imagina que um wrestler é respeitado, temido, tem uma gorda conta bancária.....ledo engano.
Um wrestler nada mais é do que um artista, um ator. Naquele momento em que ele sobe ao ringue, não está subindo o homem que passa necessidades, que tem suas obrigações para cumprir assim como todos nós, que tem seus problemas pessoais e financeiros, no momento em que sobre ao ringue está subindo um personagem, um personagem sendo interpretado por esse homem igual a cada um de nós.
Todos nós sabemos, apesar de admirarmos a modalidade que aquilo não passa de uma luta cênica, uma interpretação, previamente treinada exaustivamente, com movimentos e reações combinadas.
Não estou subjugando o conhecimento de nenhum deles em alguma arte marcial ou em qualquer outra modalidade de luta. Conheço muitos que partiram de uma experiência com o boxe, karatê, judô dentre outras artes para a luta livre, porém no momento do show isso não conta, pois o que será feito lá em cima é wrestling.
Portando, onde quero chegar é no ponto de que os próprios wrestlers têm que ter a consciência de que aquilo é um tipo de teatro, um filme, pois o que colocar no seu coração que é um lutador real está também se enganando.
Imaginar que o fim da carreira de um wrestler é algo repleto de glamour também é um equívoco.
Um wrestler não se aposenta porque quer, mas sim porque seu corpo não suporta mais, sua vida não suporta mais.
Se fosse citar alguém que se realizou profissionalmente e talvez financeiramente na realidade brasileira, poderia citar somente um nome, Ted Boy Marino. Um caso em mil de alguém que devido à fama que construiu durante a época de ouro da luta livre no Brasil, partiu para uma contratação por parte de uma emissora de TV para um programa humorístico, o que garantiu a permanência seu nome na mídia, sua fama e reconhecimento pelo seu caráter, profissionalismo e técnica incomparável.
E o que aconteceu com os demais citando como exemplo nosso cenário nacional?
Quem não se profissionalizou em qualquer que seja a área, ou fez um concurso público, ou qualquer outra coisa para manter sua sobrevivência, se viu na mesma situação do personagem do filme.
A fama passa, o corpo reclama, e o público.......ah o público, esse o esquece.
Viver disso é contar os dias para a idade chegar e ver que o sonho acabou.
Não estou radicalizando, nem obscurecendo o espetáculo. Estou somente mostrando a realidade de um mundo de ilusão.
Não pense também que um artista das várias federações americanas, mexicanas, japonesas, por não ser brasileiro tem uma vida melhor do que os nossos.
O que se vê perante as câmeras é o momento do show, o instante em que as luzes estão acesas, o estádio ou ginásio lotado, o público vibrando. Mas quando o show acaba, as luzes se apagam e o público volta para suas casas, a vida real recomeça. O wrestler despe-se de sua fantasia de herói e volta a ser o cidadão tão comum quanto eu e você.
A cena mais triste que se pode presenciar é quando o tempo já passou, a idade chegou, aquele homem que sobe ao ringue não tem mais o fôlego, o pique e a resistência que tinha antes, seus saltos não são mais como eram antes, seu corpo apresenta já os traços da idade, mas ele permanece lá sob o ringue. Ele permanece porque quer? Muitas vezes não. Permanece porque precisa, porque não sabe fazer nada mais do que aquilo, e o pior, viveu aquilo sua vida inteira, e não prestou atenção que o tempo passou, e que só o que fez a sua vida inteira foi viver uma ilusão.
O backstage do mundo do wrestling é frio, não tem beleza, é sacrificado.
Mas mesmo nesse mundo adverso, existe amizade, amor pelo que se faz e muita determinação.
Quem um dia foi um lutador de luta livre, nunca mais esquece o som do tablado, o tato das cordas, a voz do público.
Quem é hoje um wrestler sente tudo isso, mas deve ter ciência de que não deve ver o seu hoje como sua única alternativa do seu amanhã, pois certamente será muito triste se imaginar que o sucesso de hoje será o reconhecimento de amanhã.
O dia de hoje deve ser vivido intensamente, mas sem esquecer de olhar para frente, sem esquecer de programar o seu futuro, sem esquecer que um dia a fama passa, e principalmente sem esquecer que um dia será esquecido, e acabará se desiludindo e descobrindo que essa desilusão tem o motivo de a vida toda ter se iludido.