quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Jack Stunner: O combustível do Wrestling.

Sem medo nenhum, podemos dizer que as Feuds* são o combustível do sucesso da WWE. É claro, não coloco de fora a técnica e a habilidade no ringue de cada um, mas não é a curiosidade de saber os próximos passos das storylines, a torcida por um dos lados da confusão e por fim a ansiedade em conhecer os novos capítulos que nos fazem acompanhar, um, dois, três ou até quatro shows semanais? Por isso, talvez até possmos afirmar que as feuds são o combustível do sucesso do ProWrestling Tradicional Americano, em formas de WWE, WCW, NWA ou TNA.

Clique em leia mais para ler toda a matéria

Pensando em feuds, paro e analiso as rivalidades que envolvem o Wrestling atual. O que há de tão errado com elas? Porque certas rivalidades simplesmente não emplacam e porque as vezes assistimos o show, só para torcer que determinada rivalidade chegue logo ao fim? De maneira alguma quero me colocar em uma posição de Oráculo aqui, como detentor de todos os segredos e respostas, mas quem sabe refletindo juntos, não podemos entender melhor o que se passa?

Para analisarmos os elementos de uma feud, tenhamos em mente algo fora do wrestling, já que rivalidades existem desde os primórdios da humanidade.

Um dos momentos mais épicos da mitologia grega é a conhecida guerra de Tróia. Embora não exista um livro que abrigue todas as informações sobre a peleja, diversos textos ambientam suas histórias dentro deste conflito. A Ilíada de Homero, que é um destes livros, conta a história da rivalidade entre Agamenon e Aquiles, uma rivalidade tão grande que faz com que tais personagens e histórias sejam lembradas ainda hoje, milhares de anos após a sua escrita.

Tudo começou quando a deusa da discórdia Eris que não havia sido convidada a um casamento, criou uma maça dourada com a inscrição “a mais bela deusa” e deixou em cima da mesa. Athena, Hera e Afrodite logo se apresentaram desejosas pelo fruto e como Zeus estava presente, cabia ao líder do Panteão grego a tomada de decisão. Zeus, temeroso da fúria das duas deusas que seriam rejeitadas, escolheu o príncipe Troiano Paris, para atuar como o juiz da competição.

Paris era um ser humano, logo, facilmente corrompível. Sabendo desta característica, coube a cada uma das deusas lançarem as suas promessas, para que então o jovem tomasse sua decisão. Athena ofereceu sabedoria e força nos combates, Hera por sua vez riqueza e poder. Já Afrodite, ofereceu a mulher mais bela do mundo, uma oferta tentadora que conquistou o príncipe. A tal mulher mais bela prometida por Afrodite foi Helena, esposa de Menelau, rei dos Aqueus (Aqueus, o povo que mais tarde seria conhecido como os gregos). Após o anúncio da deusa mais bela, Paris ganhou Helena, e junto, ganhou três novos inimigos: Hera, Athena e Menelau.

Hera e Athena cuidaram de influenciar Menelau a ir a guerra contra Tróia, para obter sua esposa de volta. Sendo assim, Menelau ordenou o ataque e o exército foi liderado por seu irmão Agamenon. Um período após o início da guerra, foi anunciado através de uma profecia que, a única maneira de Tróia perder o confronto, seria com a atuação do jovem Aquiles: Um ser humano, filho de Zeus com outra deusa, que foi mergulhado por completo em águas sagradas que o tornariam imortal. A única parte do corpo que não havia sido banhada era o calcanhar, devido ser a parte do corpo por onde a criança foi segurada.

Os anos se passam com Agamenon e Aquiles lutando ao mesmo lado, contra a inabalável Tróia de Paris. Porém, em determinado ponto, os aqueus vencem um combate e duas mulheres são repartidas como despojo entre Agamenon e Aquiles. Porém, a mulher que ficou para Agamenon era filha de um sacerdote do deus Apolo, que ordenou que a tal filha fosse restituída a seu pai. Agamenon, o general, não desobedeceu Apolo, mas como não queria ficar sem seu despojo, tomou para si a mulher que era destinada a Aquiles. Tal fato encadeou uma das maiores rivalidades da mitologia grega.

O grande ponto desta história, é que precisamos entender que ela é feita da mesma matéria que as feuds: Rivalidades entre personagens. Além disso, temos que concordar que uma história mitológica que foi escrita há quase 3 mil anos e ainda inspira filmes e leitores, sem dúvida é uma rivalidade antológica. E seguindo destes pontos, podemos fazer a junção com o prowrestling.

A construção de uma feud é algo seqüencial e requer vários passos. Em primeiro lugar, precisamos de uma história de fundo, tal qual a existência da Guerra de Tróia, a compra da WCW/ECW pelos filhos rebeldes de McMahon, ou o mais novo caso amoroso de Edge com a General Manager do SmackDown. Tais histórias de fundo irão dar sentido a toda feud e fazer com que ela não fique parada, ou que não se torne sem sentido.

Também devemos atentar para o fato de que as melhores feuds, envolvem personagens extremamente distintos, ou extremamente iguais em total discórdia. Isso é necessário, para que todo o público possa decidir para “qual lado torcer”. Não devemos ter dois personagens benevolentes, ou dois que se respeitam ao extremo. Até mesmo, dois dos odiados do público não fariam uma feud nada interessante. JBL x MVP? Por favor, não. A evidência disso são as feuds “Face x Face”, odiadas pela maioria dos fãs do Prowrestling no mundo. Claro que, mesmo entre Faces e Faces podemos ter excelentes rivalidades, desde que cada um assuma a sua devida característica na rivalidade, aceitando abrir mão de algumas características próprias, como no caso de Samoe Joe x Sting na TNA (Onde ambos são faces e cada um defende o seu lado da história, da “guerra pelo respeito”), uma excelente feud.

É necessário lembrar que, mesmo com a história principal sendo a Guerra pela continuidade ou não da existência troiana e pelo retorno ou não de Helena, vários outros personagens além de Menelau, Paris e Helena tiveram o seu momento. A meu ver, este é um ponto muito importante: Feuds também ocorrem fora do título, afinal o título é para um grupo pequeno de competidores batalharem por vez. Enquanto isso cabe a todos manter o seu personagem interessante, cativando fãs e nos entretendo ao máximo, construindo seu caminho até a busca do cinturão. Um exemplo de boa feud, que não envolve títulos, é a feud entre Rey Mysterio e Kane. Mesmo com suas controvérsias (como a desistência do possível heel turn de Rey, ou a falta de habilidade no microfone do mexicano), tem se tornado uma feud empolgante, com excelente combates. Rey pode até não estar envolvido em um título, mas com certeza todos os seus fãs estão muito satisfeitos em ver o “Ultimate Underdog” lutando com uma velocidade impressionante, como nos dias anteriores ao seu controverso reinado Mundial dos Pesos-Pesados. Também cabe aqui citar o atual ponto da cruzada por justiça de Undertaker. O Deadman, que passou os últimos 12 meses atrás do título que havia sido dominado por maneiras injustas por Edge, hoje em dia quer que as pessoas paguem pelos seus pecados. Com Big Show protegendo tal gente, Undertaker encontrou uma nova rivalidade, sem título em jogo e a altura. É uma feud com tudo para dar certo, pois além dos lados serem bem definidos, os personagens serem excelentes, os combates atraentes, a feud consegue ainda fazer parte da epopéia de Undertaker em trazer a justiça ao SmackDown!.

Além disso, no Wrestling também temos os special enforcers/referees, ou regras especiais de combate. E assim como Paris foi um juiz convidado, tais aparições e regras não devem passar em branco. Não que o juiz seja decisivo no combate (pois em minha opinião, ou ele é decisivo porque entrou na rivalidade de vez, ou é apenas uma desvalorização do trabalho dos lutadores), mas que ele não passe em branco. Tudo que ocorre em um ringue durante uma feud, deve ser para engrandecer os lutadores e fazer com que a feud se aprimore ainda mais, não o contrário. A frustração de ver uma regra ou juiz passar em branco é, por exemplo, a sensação de não ver Mick Foley dentro da Hell in a Cell com Undertaker e Edge. Já como exemplo da frustração de regras mal-estipuladas, podemos lembrar a regra onde Rey Mysterio perderia sua máscara caso fosse derrotado por Kane no No Mercy. Além da regra não ter sentido, por ser unilateral, ela não aconteceu, fazendo com que cada fã do mundo se pensasse “Qual foi a intenção em anunciar esta regra?”. Até acreditei que Kane faria alguma promo citando o porquê da regra e porque desistir de tentar a vitória, mas não. Simplesmente ficou sem sentido mesmo.

O que também é fato é que tais observações minhas sobre os elementos que compõem uma feud, não são novidade para ninguém. Quanto mais para Michael Hayes e Brian Gewirtz (Bookers do SmackDown! e RAW, respectivamente) que estão no meio durante tantos anos. Por isso me pergunto o porquê da insistência em coisas tão estranhas e monótonas, com tantas opções tão boas pela frente.

Vejamos o RAW, por exemplo. Demorei a entender a maneira com que CM Punk foi destronado. Na verdade, apesar de entender, ainda não aceito, mas isso é uma crônica a parte. O fato é que a situação ridícula que CM Punk se submeteu teve como objetivo o engrandecimento de uma feud maravilhosa levada por Shawn Michaels e Chris Jericho, que por sinal rivalizaram por meses a fio sem títulos em jogo. Na verdade, Chris até mesmo abriu mão de seu cinturão. Quando a feud chegava a seu clímax, com combates muito bem travados, violentos, totalmente de acordo com os momentos vividos pelos lutadores: Batista entra na história. O problema é que Batista, que saiu do SmackDown por ficar sempre em segundo plano, acabou também ficando em segundo plano no RAW. Não perdeu muitos combates, é verdade, mas seja por deficiência própria ou por ser preterido por bookers, o fato é que desde Triple H, Batista nunca mais se engajou em uma feud realmente boa (embora ter tido diversos combates excelentes contra Undertaker). Com tal fato, Batista reclamou e foi atendido: Deu um jeito de se meter na feud, conseguindo um #1 Contendership para o Cyber Sunday. Segundo a minha bola de cristal (a minha e de todo mundo), Stone Cold Steve Austin será o escolhido e irá fazer “vista grossa” a uma interferência de Shawn Michaels, para que Batista saia como campeão e a feud continue. O que Batista precisa entender é que os fãs e a fama vêm, não pelo cinturão, mas pelas rivalidades e que mesmo com o cinturão em mãos, enquanto Y2J e HBK se mantiverem numa rivalidade tão bem montada: Batista nunca terá o primeiro plano, enquanto tudo o que fizer for cair de paraquedas em feuds alheias.
O que Batista precisa aprender é que não se torna personagem principal se metendo de qualquer jeito no clímax do confronto entre Aquiles e Agamenon, mas sim procurando a sua própria guerra.


E falando sobre “cair de paraquedas”, o que dizer sobre o SmackDown? Com os seus principais lutadores “estressados” ao título (Undertaker e Edge lutaram muito tempo pelo título e precisam passar a vez), sobrou as mãos de Triple H e Jeff Hardy a tarefa de dar o brilho a principal estrela da sexta: O campeonato da WWE. O problema é que devido as características dos lutadores, a feud simplesmente não anda. Eles tentam se odiar, mas no fim acabam se ajudando e...enfim, feuds face x face raramente é a melhor opção. Para completar, Triple H está com o título a muito tempo e precisa perde-lo, porém Jeff Hardy ainda não tem a “moral”, para derruba-lo. Seja por influência familiar ou não, Triple H é um dos maiores nomes da história da WWE e vencê-lo, limpo assim, não é para qualquer um. E Hardy não joga sujo.
De olho no potencial que os dois lutadores tem, é visível o quanto a equipe de Hayes tem tentado colocar sal na feud. No Unforgiven, o infame ppv dos Championship Scrambles, vimos três heels entrarem na feud: MVP, Shelton Benjamin e The Brian Kendrick. O resultado? Os três ainda estão muito aquém de Jeff Hardy e Triple H. Acabaram ficando na sombra e hoje em dia já foram expulsos da feud. Triple H, que é um face bem, digamos, apimentado, até tentou das suas: Começou a ofender Jeff Hardy dizendo que ele sempre estava a um segundo da vitória, em diversas promos. No fatídico Scramble, Jeff Hardy era o dono do último pinfall até o último segundo, quando optou por tentar um pinfall com 2 segundos, ao invés de impedir Triple H de realizar o seu. No No Mercy, Jeff Hardy dominou o combate, mas no último segundo de sua tentativa de pinfall, Triple H reverteu e não teve perdão. Por motivos obvios, todos interpretaram os fatos como uma demonstração do poder paralelo de Triple H, embora provavelmente fosse parte da criação de uma feud a respeito da inconstância de Jeff Hardy. Como aquilo, obviamente, não deu certo e os fãs de todo mundo criticaram totalmente os resultados e a direção da rivalidade, chegou a hora de jogar alguma pimenta na mistura.

A sorte de Hayes foi uma carta na manga, que foi entregue pelo próprio rival Jeff Jarett: Vladimir Kozlov. O russo, que vem vencendo combates desde que estreou na companhia pode ser tanto o heel que faltava para apimentar a feud (e já tem apimentado. Suas aparições constante pedindo por desafio têm dado um sentido a coisa toda) e mais: Pode ser a solução para Hardy se tornar campeão mundial pela primeira vez. Devemos ter em mente que os heróis, por mais invencíveis que sejam, precisam de um meio para serem derrotados. E se super-homem possui kriptonita e Aquiles não teve seu calcanhar banhado, talvez em uma Triple Threat Match, o gigante russo caia, com sua invencibilidade quebrada e com o alvorecer de um novo reinado, construído por Swantom Bombs e Whipser in the Wind: Um reinado de Jeff Hardy.

Porém, estamos falando em Cyber Sunday. Se tudo é feito mediante votações, cabe a WWE conseguir influenciar a todos para votarem naquilo que ela quer que ocorra, o que geralmente acontece, através de promos e mais promos.

Feuds, feuds, feuds. É isto que faz o Wrestling Americano tão especial. É fato que existem regras, é fato que existem exceções. Existe tanta coisa boa acontecendo, porém sem dúvidas temos que torcer para que as feuds pelo título, voltem a ter o prestígio que tinha. Pois se todos que viram os melhores momentos são saudosos das memoráveis feuds do passado, os que não viram são ansiosos pelas boas feuds dos dias que ão por vir.

*Para quem não está acostumado com o jargão da luta-livre, feud é o termo usado para descrever as rivalidades que sustentam o show.

7 comentários:

Marcos Amaral 23 de outubro de 2008 às 12:30  

O melhor colunista do Brasil, agora também no Portal da Luta Livre ;)

Po, desde a mitologia grega ao prowrestling... Excelente coluna! Seja bem-vindo, Jack, e estamos no aguardo de próximas colunas! :D

Anônimo 23 de outubro de 2008 às 12:33  

Po, agora o Jack no Portal da Luta Livre, como disse certamente o Marcos, melhor colunista do Brasil.

By SCSA

... 23 de outubro de 2008 às 12:34  

OMG! Jack você é um gênio, além de escrever bem pra ca*****, você ainda consegue unir coisas diferentes como Mitologia Grega e Feuds no Wrestling!!

RS Bogo 23 de outubro de 2008 às 13:45  

Agora sim li ela inteira, cada vez q leio uma cronica sua Jack, fico mais abismado, sabendo que você talvez seja o melhor da lingua portuguesa e que se quisesse, podia virar um jornalista famoso.

Por isso eu disse na entrevista que o Allyson fez comigo, mas que não apareceu no TIW: "Me baseio no Dofus e no Jack para escrever."

alan 23 de outubro de 2008 às 13:48  

Muito bom Jack

joao b. 24 de outubro de 2008 às 09:56  

Pois é Jack... Eu sou um dos que não conseguem engolir uma feud entre faces. Por mais que estejam tentando colocar "sal" na feud, ela continua insossa. Em uma semana Jeff ataca o Triple H com um Twist of Fate e na semana seguinte o ajuda contra o Kozlov.

O que desanima é que ultimamente o "profeta do óbvio" (gostei desse termo) está fazendo a festa. Soube do resultado entre Triple H e Big Show pelo WWE Championship, sabe de tudo que acontecerá no Cyber Sunday na luta pelo WHC e sabe o que acontecerá na luta entre Triple H e Undertaker no SmackDown dessa semana.

Até por tudo isso, que é ruim o Triple H ser o campeão e fazer feud com outro face. Assim como Undertaker, não é qualquer um que pode tirar o título dele jogando limpo.

E é aí que a feud me desanima...

Jack 24 de outubro de 2008 às 16:12  

Obrigado a todos pelos elogios. Me sinto lisonjeado :-)

Quanto aos comentários de Uncle:

Exatamente. O problema é que Triple H sabe que precisa perder o título, mas não quer perder em um combate limpo para alguém que nunca foi campeão antes, como Jeff Hardy. Parecia que a feud ia tomar diversos rumos, acabou não tomando e a solução de Kozlov perder o combate parece bem razoável.

Eu só não entendo o porque Triple H não vira um heel logo, como quase sempre foi (já que é um face heelish) para apimentar as coisas. Talvez seja justamente para não roubar os holofotes demais..ou não?

Enquanto isso o profeta continua rondando a WWE. Nas quintas a noite nasceu uma nova stable, coisa que não vemos na WWE faz tempo: The Main-Event Mafia!

Estejamos atentos!